Pedro, meu menino, quando nasceste foi Natal. A primeira vez que te vi exclamei "Que bonito!" Depois, todos os anos foi Natal!

À mesa da ceia de Consoada, na casa da tia, juntámo-nos familiares e amigos, num ritual de afetos que nunca falhámos desde o teu nascimento.

O teu lugar - estás a vê-lo? - costumava ser ao lado do primo. Este ano a mãe não levou os ovos recheados de que tanto gostavas. Não lhe apeteceu fazê-los. Também não teve tempo. Por causa de uma grande nevada em Travancas só pudémos sair de lá dia 23 de Dezembro ao fim do dia.

À mesa da ceia de Consoada, na casa da tia, juntámo-nos familiares e amigos, num ritual de afetos que nunca falhámos desde o teu nascimento.

O teu lugar - estás a vê-lo? - costumava ser ao lado do primo. Este ano a mãe não levou os ovos recheados de que tanto gostavas. Não lhe apeteceu fazê-los. Também não teve tempo. Por causa de uma grande nevada em Travancas só pudémos sair de lá dia 23 de Dezembro ao fim do dia.

No Natal comem-se muitos doces e frutos. De tudo provei um pouco: lampreia, bolo-rei, pudim, sonhos, pudim, filhós, rabanadas, ananás, figos, nozes, ameixas e tâmaras. A prenda da tua irmã, para mim e para a mãe, foi um vale para termos aulas de natação na piscina de Escola Náutica. Não me apetece mas como estou com excesso de peso, vou fazer-lhe a vontade e deixá-la feliz. Foi ela, mais uma vez, que fez a distribuição das prendas de Natal.
Depois da ceia, e antes da distribuição das prendas, fomos à igreja de São Julião do Tojal, assistir à Missa do Galo. Gostei muito dos cânticos. Na casa da tia, ao contrário do que é habitual, ninguém cantou músicas da quadra natalícia.
Dia 25 de Dezembro, dia de Natal, voltámos à tia para almoçarmos com os tios e os primos.


Em casa, desde que cresceste, quem fazia a árvore e o presépio com musgo da Serra de Sintra, eras tu!
Este ano, como nem eu e a mãe estivéssemos motivados, a tua irmã surpreendeu-nos agradavelmente, fazendo ela a árvore de Natal e o presépio, durante a nossa ausência em Trás-os-Montes.

A ceia de fim de ano, como habitualmente, foi em nossa casa. Só estávamos oito. A tua irmã foi passar o fim de ano à Bélgica e os teus primos passaram o Ano Novo com amigos.
A mãe, como sabes, cozinha muito bem. Para o jantar de fim de ano voltou a cozer bucho, encomendado à dona Conceição de Travancas, e serviu-o com grelos de Mirandela e batatas cozidas trazidas da aldeia. Estava saboroso, assim como o caldo de castanhas.
Não me conformo com o que aconteceu; sinto muitas saudades de ti, meu filho, meu tesouro! Este Natal, sem ti, foi o mais triste da minha vida. Na passsagem do ano não formulei nenhum desejo nem comi as doze passas. O que eu gostava era de te ver em cima do trator. Fazias tudo tão bem! Nas últimas férias passeaste comigo e com a mãe, fui-te mostrar a Ruta do Contrabando em Segirei, bebemos cerveja e comemos amendoins na praia fluvial.

A vida continua...
A menina com quem foste ver o concerto de Kusturica no Algarve, no último Verão, vai ser mãe. Apetece-me repetir-lhe as palavras com que o anjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento de Jesus: "Ave Maria cheia de graça, o Senhor esteja contigo, bendita sejas tu entre as mulheres e bendito seja o fruto do teu ventre".
A menina com quem foste ver o concerto de Kusturica no Algarve, no último Verão, vai ser mãe. Apetece-me repetir-lhe as palavras com que o anjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento de Jesus: "Ave Maria cheia de graça, o Senhor esteja contigo, bendita sejas tu entre as mulheres e bendito seja o fruto do teu ventre".
Algum tempo ausente de Oeiras voltei neste fim de ano ao paredão, onde tu chegaste a andar de patins em linha. Nunca te disse nada mas gostava de te ver patinar, de ver as tuas pernas e tronco ondearem em cima dos patins numa sintonia perfeita que dava gosto ver. A tua paixão era o hóquei em patins mas eu desviei-te para a natação ...
A mãe ficou no carro. Saí para tirar uma foto e, apanhado por uma repentina chuvada, acabei regressando encharcado.