segunda-feira, 8 de junho de 2009

Desfile Pombalino


Viagem ao tempo dos déspotas esclarecidos

Dom Jose I - o Reformador, a raínha Maria Vitória e o mestre de cerimónias
No âmbito da celebração dos 250 anos da elevação de Oeiras a concelho, a Câmara Municipal de Oeiras recriou na tarde de Sábado, dia 6 de Junho, uma visita do rei Dom José I ao Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo, seu poderoso primeiro ministro e autor da célebre frase "Enterrem-se os mortos e cuidem-se dos vivos", proferida logo após o terramoto de 1755.

O chamado Desfile Pombalino consistiu na viagem da comitiva real entre as vilas de Paço de Arcos e Oeiras e na festa de recepção ao rei nesta vila.

A comitiva real partiu do Palácio dos Arcos na vila de Paço de Arcos e foi até ao Palácio do Marquês, residência do então ainda Conde de Oeiras.


Palácio dos Arcos engalanado para receber o rei

Este bonito palácio do século XV, cujos jardins estão abertos ao público, deu nome à vila de Paço de Arcos. Pertenceu aos condes de Alcáçovas e hoje é propriedade municipal. Consta, sem confirmação histórica, que D. Manuel I vinha ver das suas janelas a partida das caravelas.


Família real portuguesa

O rei Dom José I com a raínha Maria Vitória de Bourbon; a filha mais velha, Maria Francisca, sucessora do trono, e D. Pedro de Bragança, irmão do rei. Mais tarde o tio casa com a sobrinha e, posteriormente, ambos sobem ao trono; ela com o título de D. Maria I, ele com o título de D. Pedro III. Deste rei, o historiador Oliveira Martins diz que "não se concebe homem mais feio, com cara de idiota, expressão feroz, cabeleira desalinhada, ar de bêbado, um sacristão." Fiquei desconcertado por a herdeira do trono ser representada por uma actriz mais velha que a própria rainha!


Coche da princesa herdeira e do rei consorte, D. Pedro III
A família real partiu para Oeiras em dois belos coches que não pude apurar em que museu se encontram guardados. Terão sido encomendados a oficinas francesas da Époque des Lumières para circular em caminhos lamacentos portugueses? São carroças lindíssimas, não custando acreditar que sejam o topo de gama da época, comprados para impressionar as cortes europeias mais sofisticadas. A raínha Maria Vitória, filha de Carlos V, rei de Espanha, em carta escrita ao pai, dizia que o sogro, Dom João V, fazia despesas perdulárias. As iluminadas elites de hoje, convencidas de que o hábito faz o monge, colhem aí bons exemplos de como podem ser utilizados os dinheiros públicos.



Charameleiros abrem Desfile Pombalino

Este numeroso grupo de homens, com ricos uniformes de veludo encarnado, debroados a ouro, são os charameleiros, tocadores de charamela, trombeta medieval, aparentada com o oboé e o clarinete. A sua presença era obrigatória nos cortejos reais. O som sublinhava a solenidade e a proximidade do rei ou do seu representante. O efeito cénico e o som da charamela são de se lhes tirar o chapéu!


Fidalgas montadas a cavalo também participaram no cortejo. Ao vê-las, de porte altivo, traços delicados, rosto alvo e vestidas com roupa fina, senti-me transportado para o mundo faustoso das côrtes europeias mais requintadas. Diante de seres etéreos como não sentir-me labrêgo e, reverente, reconhecer a superioridade da nobreza!


Baco, em cima de um garrido carro de bois e acompanhado de belas bacantes, foi bastante aplaudiddo pela populaça, rivalizando em vivas com os vivas ao rei. Desconheço a intenção da sua inclusão no cortejo real, assim como a ausência do clero. Todavia, esta ausência talvez possa ser explicada pela perseguição aos Jesuítas feita pelo pelo poderoso Marquês de Pombal, membro da maçonaria.

Povo e escravos fecharam o cortejo da viagem do rei a Oeiras. O povo fica no fim do cortejo como fica na base piramidal da hierarquia social. Quanto a mim, mea culpa, pois nem uma foto tirei ao grupo de escravos!


Desfile passando sob jacarandá florido
Nesta época do ano as ruas de Oeiras, onde há jacarandás, ficam mais belas com as árvores floridas de roxo. Quanto aos charameleiros, alguns tocam trombeta e outros são porta-estandartes, cocheiros e guardas-reais.

Chegada à freguesia de Oeiras
A escolta real de charameleiros a entrar na Rua de Oeiras do Piauí. Os moradores da casa amarela estenderam valiosas colchas às janelas para saudar a passagem de sua magestade fidilíssima, El Rey Dom Jose I e seu séquito.


Carro de Baco deixando a Rua de Oeiras do Piauí e entrando na Rua Cândido Reis. A propósito, gostava de saber a razão pela qual o "prefeito" da cidade brasileira geminada com Oeiras, ao contrário de outros presidentes de câmara de cidades geminadas, não faz parte da Comissão de Honra que celebra os 250 anos de elevação a concelho. Relações cortadas?


Com a aproximação da comitiva real, oficiais da guarda do Conde de Oeiras, numa atitude protocolar, subiram a Rua Cândido Reis ao encontro do séquito real, tendo-se-lhe juntado na última parte do percurso. Aparecem na foto, atrás dos charameleiros. Os garbosos oficiais, trajados a rigor, fizeram com que me sentisse reduzido à minha insignificância plebeia, tal como me tinha sentido quando vi as fidalgas cavaleiras.

No Largo da Igreja Matriz de Oeiras, entretanto, grupos de fidalgos e muito povo esperavam por sua magestade, El Rei Dom José I.


O Marquês de Pombal, na sua Quinta de Lazer, em Oeiras, hospedava e organizava festas para os seus convidados. Alguns acompanharam-no na recepção ao rei. No largo da Igreja de Nossa Senhora da Purificação foi divertido entrar nesse mundo de faz-de-conta porque os actores foram convincentes na representação de algumas maneiras de ser e de estar da alta nobreza pombalina.


Conde de Oeiras dando as boas-vindas ao rei

O conde está de cabeleira branca, acompanhado de sua segunda mulher, a condessa austríaca Maria Leonor Ernestina Daun. Dom José I concedeu a Sebastião José de Carvalho e Melo dois títulos de nobreza. Conde de Oeiras em 1759, e Marquês de Pombal em 1769, título com o qual ficou conhecido para a história. A avalanche de fotógrafos à minha frente não me permitiu tirar fotos ao conjunto. Na foto, à direita, reconheço o mestre de cerimónias do rei.


D. José I, ladeado da família, à sua esquerda e de elementos da alta nobreza, ouvindo atentamente as boas-vindas do Conde de Oeiras e seu primeiro-ministro.

Durante a cerimónia o grupo Coral Vértice interpretou cânticos de música sacra do período barroco.

Muito povo juntou-se à cerimónia de recepção ao rei. Ouviam-se vivas vindos não apenas dos figurantes, o que realça a predisposição popular para apreciar o fausto e evidencia que tem atitudes reverenciais para com os detentores do poder. Noutras situações é o oposto. Consta que o Marquês, numa das vindas à sua quinta, onde mandou construir um palácio, tenha trazido um urso e que o povo noutras ocasiões o tenha insultado gritando "Lá vai o urso!"



Fim da cerimónia de boas-vindas ao rei.

Séquito real dirigindo-se a pé para o largo diante da Câmara Municipal


Um Conde de Oeiras radiante

Não é para menos, Sebastião José de Carvalho e Silva, descendente de fidalgos da província, tinha acabado de ser agraciado pelo rei com o título de conde! O actor que interpretou o papel de Conde de Oeiras foi brillhante, está de parabéns. Jovem e de estatura alta, com o seu savoir-faire e impecavelmente trajado de nobre, fazia lembrar uma galante personagem da corte do Roi Soleil. É difícil imaginar como seria a vida na corte portuguesa porque não há relatos, retratos e filmes que a materializem na imaginação de populares do século XXI! Talvez estes desfiles históricos contribuam para formar a ideia de que a corte portuguesa, embora provinciana, seguia as modas ditadas pelos Bourbons e Habsburgos. Mas não restam dúvidas de que o Conde de Oeiras passou com distinção no Desfile Pombalino!


Danças de salão na rua!

Em Paço de Arcos e em Oeiras foram montados amplificadores de som que, transmitindo música barrôca e em harmonia com a cenografia, nos transportaram e fizeram reviver a época do Iluminismo Despótico.


Fim da festa pública de recepção ao rei em Oeiras

A vida de Sebastião José de Carvalho e Melo correu-lhe bem até à morte do rei D. José I, em 1770. Ainda era um jovem turbulento quando ficou viúvo da primeira mulher, Teresa de Mendonça. D. João V, então rei, nomeou-o embaixador em Londres e Viena. Foi a rainha-mãe de D. José I, austríaca, que o apresentou à sua segunda esposa e aconselhou o filho, por morte de D. João V, a designá-lo como primeiro-ministro do reino. E, como nos contos de fada, assim foi. O marquês governou com mão de ferro, atacando os jesuítas e decapitando os Távoras. O marquês caiu em desgraça no reinado seguinte. D.Maria I, profundamente religiosa, não lhe perdoou as reformas empreendidas. O marquês acabou os seus dias em 1782, exilado, numa propriedade dos pais, em Pombal.


Fecham-se os portões do palácio do Marquês de Pombal

Povo ficou à porta. A festa continuou lá dentro, nas salas do palácio e nos jardins à francesa, para figurantes e VIPs, quiçá regada com Muet et Chandon.


domingo, 7 de junho de 2009

Parabéns Oeiras

Festas

Oeiras está a festejar o seu 250º aniversário da elevação a vila em 7 de Junho de 1759, seguida da criação do concelho de Oeiras em 13 de Julho. O foral chegou no ano seguinte.

Pelourinho de Oeiras
Simboliza a autonomia jurisdicional do concelho.
Foi construído no século XVIII no jardim entre a Câmara Municipal e o palácio do Marquês. Os três degraus na base representam, simbolicamente, as três classes sociais: Nobreza , clero e povo.


Oeiras somos todos nós
Os festejos começaram no dia 25 de Abril, subordinados ao tema "Oeiras somos todos nós" e terminam a 31 de Outubro.








sexta-feira, 5 de junho de 2009

Foral da Vila de Oeiras

250 anos de elevação de Oeiras a concelho


Cópia integral do foral de Oeiras
Para ler o foral clicar nas fotos

O rei Dom José I, depois de em 7 de Junho de 1759 ter elevado Oeiras a vila; de tê-la doado ao Marquês de Pombal, e de ter constituído o concelho de Oeiras em 13 de Julho, concede, em 1760, uma Carta de Foral à Vila de Oeyras.

Index do que se conthem neste foral

Foral é uma carta régia através da qual o rei estabelece os foros dos habitantes de um concelho, ou seja, é um documento ou lei onde são definidos os direitos, privilégios, impostos, taxas, isenções, deveres, liberdades e garantias dos cidadãos de uma vila não pertencente ao património senhorial da Casa Real.

O foral de Oeiras tem 40 capítulos.
"Dom José, por graça de Deos, Rey de Portugal e dos Algarves, daquém, e dalém mar e África, Senhor de Guiné e Conquista, Navegação, Commercio da Ethiopia, Arabia, Persia e da Índia.
A quantos esta nossa Carta de Foral dada à Villa de Oeyras e seu termo virem, que havendo eu por bem erigir em Villa do lugar de Oeyras, e creado della Conde a Sebastião Jozé de Carvalho e Mello, do meu Conselho e Secretário de Estado dos Negocios do Reyno, me requereo o dito Conde fosse eu servido mandar ordenar um Foral pelo qual se houvessem de regular e arecadar os direitos Reays e mais tributos na dita villa …

Termo e Julgado de Oeyras todo do Regengo
Termo e Julgado de Oeiras” - Limites e território onde um juiz ordinário exerce jurisdição. "Começa o termo de Oeyras desde a ponte da Cruz quebrada pelo ryo assima athe à ponte chamada de Jamor …"

Todo do Regengo” - Desde a fundação de Portugal, até à reforma liberal de 1834, dava-se o nome de reguengo ou terra reguengueira a uma propriedade real e em que os moradores na dita terra pagavam foros ao rei.

A vila de Oeiras e o seu concelho deixaram de ser terra reguengueira quando o rei Dom José I doou a vila e o seu termo a Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, mais conhecido pelo nome de Marquês de Pombal.




Cap. 7 – Do q’ devem pagar os pescadores q’ à dita villa e seu termo trousserem pescado.
A pesca era uma actividade importante no porto de Paço de Arcos, pertencente ao termo de Oeiras.
Cap. 8 – Os pescadores haverão de conducto dez arrates de peixe.
Um arrátel é uma antiga unidade de medida de peso. Dez arrates correspondem a 4kg e 590 gramas de peixe pago ao erário real.


Cap. 9 – Das lagostas, santollas e similhantes se pagarão duas dízimas...
O dízimo é a décima parte de algo. Duas dízimas de imposto correspondem à quinta parte de santolas e lagostas pescadas. Será que ainda se pescam lagostas na costa de Oeiras?
'Declarações geraes para a portage'

Cap. 13 – Que a pessoa q’ houver de pagar a dita portagem seja de fora da Villa e termo.












Cap. 24 – De cada boy, vaca, porco, porca, bode, cabra, carneiro, ovelha que se vender pagarse há sinco réis.

sinco réis” - Réis é o plural de real, moeda existente em Portugal até 1910, ano em que foi substituída pelo escudo.







Cap. 38 – As pessoas Eccleziásticas de todas as Igrejas, Mosteiros em q’ há frades, freiras, são previligiados e izentos de direitos da portagem.
Exceptuando os moradores, os membros do clero e todas as pessoas que apresentem documentação isentando-as de pagamento, todas as demais pagam portagem para entrar na vila de Oeiras e seu termo.
Cap. 39 - E assim são livres de pagarem a dita portagem as cidades, villas e lugares que se seguem…Na lista, com excepção de Lisboa, constam localidades do Norte e interior do país. De Trás-os-Montes são as seguintes: "Miranda do Douro, Bragança, Freixo de Espada à cinta, Santa Maria do Azinhozo, Mogadouro, Anciaens, Chaves, Monforte de Ryo Livre, Montalegre".
Penas
"Qualquer pessoa que for contra este nosso foral ou concorrer para a alteração das determinações nelle contidas incorrerá na perda do officio que tiver, e em cem mil réis, metade para as despesas da Camara, e a outra metade para a portagem, e será degradado por três annos para hum dos lugares de Affrica (...)"


Feito em Nossa Senhora da Ajuda aos vinte e sinco dias do mez de Setembro de mil setecentos e secenta annosEl Rey

O rei e a sua família, depois da derrocada do palácio real, sito no Terreiro do Paço, durante o terramoto de 1755, foram viver para a Real Barraca da Ajuda, onde foi assinada a carta de foral dado a Oeiras.



Brasão de Armas no foral de Oeiras
O brasão do Marquês de Pombal, uma cuaderna de crescentes contendo no seu interior um a estrela dourada de oito raios, sob fundo azul, passou a ser o brasão da vila de Oeiras.
O actual brasão conserva a cuaderna e, no peito de um cisne, a estrela dourada. Esta ave, inicialmente, símbolo do Conde de Oeiras, em termos esotéricos representa a luz, a pureza, a graciosidade, as linhas esbletas e a nobreza. Simboliza, ainda, o espírito claro e límpido do homem do Iluminismo, período em que a Oeiras foi atribuído o foral.