Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio, Noite Com as estrelas lentejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. ... Vem sobre os mares, Sobre os mares maiores, Sobre os mares sem horizontes precisos, Vem e passa a mão pelo dorso da fera, E acalma-o misteriosamente, ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!
É tão calma a noite. A noite é de nós dois. Ninguém amou assim nem há-de amar depois. Quando o amanhã nos separar, em nossa lembrança hão-de ficar beijos de verão, ternuras de luar, a brisa a murmurar uma canção. Tudo tem suave encanto quando a noite vem. A noite é só nossa, no mundo não há mais ninguém
Nossa Senhora das coisas impossíveis que procuramos em vão, dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela, dos propósitos que nos ... doem por sabermos que nunca os realizaremos... Vem, e embala-nos. Vem e afaga-nos. Beija-nos silenciosamente na fronte, tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam, senão por uma diferença na alma. Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Rosa negra sem roseira Abre-te bem nos meus ombros Como o vento numa bandeira. Abre-te bem nos meus ombros Vira costas à saudade Capa negra, rosa negra Bandeira de liberdade. Eu sou livre como as aves E passo a vida a cantar Coração que nasceu livre Não se pode acorrentar. Adriano Correia de Oliveira, Poema de Manuel Alegre
Se eu pudesse beber-te, ó noite, até encontrar o teu gosto. Ou mordendo a ponta do açoite da tua treva no meu rosto. Nictofagia, Natália Correia
Ó noite florida das sementes que trazes no punho, uma adolescência impelida pelo arco das brisas de junho! Nictofagia - Natália Correia
O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a água que de súbito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. ... À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma ... Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando meus passos vão, quando voltam meus passos, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, porque então morreria. Pablo Neruda
Ó minha noite, em cada imagem Reconheço e adoro a tua face, Tão exaltadamente desejada, Tão exaltadamente encontrada, Que a vida há-de passar, sem que ela passe, Do fundo dos meus olhos onde está gravada. Noite - Sophia de Mello Breyner Andresen
De noite, amada, amarra teu coração ao meu e que eles no sonho derrotem as trevas como um duplo tambor combatendo no bosque contra o espesso muro das folhas molhadas. Nocturna travessia, brasa negra do sonho. ... Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro, à tenacidade que em teu peito bate. De Noite, Pablo Neruda
De madrugada saio para rua A cidade está à minha frente E de repente a cidade é minha e tua A cidade é de toda a gente Entre um gin e um beijo Vamos nós de bar em bar Sinto tudo o que vejo Há um brilho no ar. Poema de Anabela; música de Sara Tavares
Night Rider - Cavaleiro da noite junto ao Forte de São Julião da Barra.
Ao canto da noite esperava o dia que fossem horas de a ver chegar. Ao canto da noite já desesperava em todos os cantos que deixou p´ra trás. Luis Represas
Vi depois, numa rocha, uma cruz, e o teu barco negro dançava na luz. Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas. Dizem as velhas da praia que não voltas: São loucas! São loucas! Letra: David Mourão Ferreira; Música, Amália Rodrigues
Quando se fez ao largo a nave escura, na praia essa mulher ficou chorando, no doloroso aspecto figurando a lacrimosa estátua da amargura. ... E aquela pobre mãe, não dando conta Que o sol morrera, e que o luar desponta, A vista embebe na amplidão das vagas... Gonçalves Crespo, Nocturnos
Correndo de par em par lava a cidade de mágoas leva as mágoas para o mar Música, Adriano Correia de Oliveira; Letra, Manuel da Fonseca
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