Igreja matriz de Oeiras
Calvário, 1745, Miguel António do Amaral
Contingências de diversa ordem fizeram com que pela primeira vez, em muitos anos, tenha passado a Páscoa em Oeiras. Nesta época costumava rumar para norte, a caminho da aldeia, aninhada na raia montanhosa do Reino Maravilhoso. O retorno temporário à terra mater revitalizava-me.
Este ano fiz o percurso inverso. Cheguei a Oeiras quarta-feira à noite e nos dias seguintes andei no passeio marítimo. No primeiro dia senti-me como um bife no Algarve, satisfeito por andar ao sol. A primavera começou no equinócio de verão, dia 21 de março, mas a neblina, a chuva e o frio persistiam, passando dias à lareira. Gosto do inverno mas chega uma altura em que anseio por ver sol.
A princesa chegou sexta-feira de Brisbane. Sábado convidou-nos para jantarmos no Pizzarela do jardim de Santo Amaro de Oeiras. Apesar de ser um espaço acolhedor, com ampla vista para o jardim, e a clientela ser seleta, acho discrepante a relação preço-qualidade lá praticada. Verdade seja dita que também não sou apreciador de pizzas, exceto quando são apaladadas, como as que comi em casa do compadre Zé e em Curitiba, no bairro italiano de Santa Felicidade. Como gosto de anchovas, pedi uma pizza romana, pequena. As azeitonas não devem ter ido ao forno, estavam frias; o molho de tomate, insípido, não cobria toda a massa. Justifica-se pagar 9,90€ só pela pizza? No Campista de Chaves, por 8€ tomo uma refeição completa, incluindo delicioso queijo com doce de abóbora, café, vinho, pão, sopa caseira e meia dose farta de um dos pratos do dia!
Novamente sós. A princesa partiu para terras de Vera Cruz. No regresso de a ter deixado no aeroporto, fui até ao Paredão. O sol brilhava no domingo de Páscoa e o passeio marítimo estava atolhado de famílias tugas de todas as condições sociais. Estive a ver as gaivotas e depois fui à missa do meio-dia.
Igreja de Nossa Senhora da Purificação, inaugurada 1744. As obras de construção, iniciadas em 1702, para substituir a pequena igreja paroquial então existente no local, arrastaram-se até 1737, ano em que o supertintendente Antonio Rebelo de Andrade, cavaleiro da Ordem de Cristo, proprietário da quinta do Palácio do Egipto, meteu mãos à obra e financiou a conclusão de "tão magnífico e sumptuoso templo". O corpo desse benemérito jaz na capela-mor, em campa que pode ser vista.
O interior da igreja matriz, de linhas neoclássicas, é bastante harmonioso. Os altares e paredes laterais, revestidos de telas a óleo, restauradas há alguns anos, mostram aspetos das vidas de Nossa Senhora e de Jesus. São obras de arte que ajudam a compenetração e a meditação.
Impressionou-me a beleza da igreja, especialmente o altar da padroeira, barroco, mas sem aparato, decorado com ramos de flores brancas. O cheiro forte a insenso, saído do turíbulo, agradou-me, era como se inspirasse sopro divino. Até o feixe de luz no altar-mor sugeria a presença do etéreo no templo!
Depois de ver tanta gente tuga no Paredão não esperava encontrar a igreja repleta de fiéis. Foi reconfortante ver quarentões, trintões e alguns vintões participarem na missa, sinal de que pelo menos na Páscoa, apesar do fascínio exercido pelas catedrais do consumismo e do lazer, há quem preserve e partilhe, por momentos, um espaço destinado à espiritualidade.
Bonita pietà
Não beijo imagens mas entendo que a escultura e a pintura humanizam e aprofundam uma relação de espiritualidade. O catolicismo, com a sua panóplia de santos mediadores espirituais, é herdeiro do paganismo greco-romano.
Ser cristão, católico, para mim é um ato de afirmação cultural que tento preservar, tal como defendo a língua materna em que aprendi a relacionar-me com o mundo que me rodeia. A minha ligação à religião passa mais pela praxis e só parcialmente pelo Credo. Não me interessa aprofundar eventuais incongruências doutrinárias; na ausência de inquisição a impor atos de contrição e de fé, a minha relação com Deus, heterodoxa, é a chama que me ilumina o caminho.
Ser cristão, católico, para mim é um ato de afirmação cultural que tento preservar, tal como defendo a língua materna em que aprendi a relacionar-me com o mundo que me rodeia. A minha ligação à religião passa mais pela praxis e só parcialmente pelo Credo. Não me interessa aprofundar eventuais incongruências doutrinárias; na ausência de inquisição a impor atos de contrição e de fé, a minha relação com Deus, heterodoxa, é a chama que me ilumina o caminho.
Órgão recentemente restaurado. Como gosto de música sacra, incluindo gregoriana e barroca tocada em órgão; como vibro ao som das cordas do violino; como sou apaixonado por coros de ópera, senti-me inebriado com as sonoridades da missa pascal. Parabéns ao organista, à menina violinista e ao grupo coral da igreja. O novo padre, como é um excelente comunicador, também está a conseguir reunir as hostes!
De tarde voltei ao passeio marítimo com o objetivo de detetar sinais da Páscoa no Paredão. Trabalho inglório!
O dia ensolarado e primaveril encheu no entanto o paredão de tugas que circulavam aos magotes: em familia, em grupos de amigos e aos pares de enamorados. Solitários praticantes da caminhada e do jogging estavam em minoria na tarde soalheira.
Tuga, expressão usada por africanos dos PALOP, é o ex-colono-branco, o Zé-português-de-Braga, o Chico-esperto hábil na arte do desenrrascanço, o alfacinha-da-volta-saloia, o Zé-da-canga do Bordalo Pinheiro...
Sinais de ser dia de festa, sem identificação com Páscoa, eram dados indiretamente pela multidão, concentrada nas esplanadas e passeando descontraída à beira-mar.
No passeio marítimo, espaço marcadamente laico, há no entanto marcas de cristandade na toponímia, em capelas, cruzes e imagens. Capela da Feritoria do Colégio Militar e Forte de São Julião da Barra são alguns exemplos.
Os católicos demarcam o território erguendo, em lugares estratégicos e bem visíveis, padrões, cruzeiros, alminhas, cristos redentores e imagens de padroeiros. Assim aconteceu à entrada da marina, do lado do mar, onde foi colocada a estátua de Nossa Senhora do Carmo, por "oferta dos emigrantes, em 21 de julho de 2006", conforme consta no pedestal.
A Senhora do Carmo, enquanto rainha Mãe de Deus e símbolo de maternidade, é representada com Jesus ao colo e uma coroa. A sua principal característica é o escapulário na mão, que os fieis usam ao pescoço para se protegerem do mal. Antigamente, quando se rezava o terço, a seguir a cada mistério fazia-se a seguinte invocação: Senhora do Carmo, mãe do Carmelo, livrai as nossas almas das penas do inferno.
O edifício amarelo é a pousada da juventude, outrora pertencente ao Forte de Nossa Senhora das Mercês de Catalazete, construído em 1762.
Nossa Senhora do Carmo, Estrela do Mar, padroeira dos marinheiros, também é conhecida por Nossa Senhora do Monte Carmelo, título que relembra o convento em honra da Virgem Maria, construído no Monte Carmelo, na Samaria, nos primeiros séculos do cristianismo. O seu dia é festejado a 16 de Julho.
O Forte de São João das Maias, em processo de restauração, fecha a praia de Santo Amaro de Oeiras.
O edifício amarelo é a pousada da juventude, outrora pertencente ao Forte de Nossa Senhora das Mercês de Catalazete, construído em 1762.
Nossa Senhora do Carmo, Estrela do Mar, padroeira dos marinheiros, também é conhecida por Nossa Senhora do Monte Carmelo, título que relembra o convento em honra da Virgem Maria, construído no Monte Carmelo, na Samaria, nos primeiros séculos do cristianismo. O seu dia é festejado a 16 de Julho.
O Forte de São João das Maias, em processo de restauração, fecha a praia de Santo Amaro de Oeiras.
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